4 de dezembro de 2018
A esquerda no Brasil é um fenômeno tradicional e fortemente enraizado na classe média. Classe média pensada menos em termos de poder aquisitivo e mais como detentora do acesso ao capital cultural que provém da escolarização. Escolarizar-se, no Brasil, é tão fundamental para manter níveis na pirâmide quanto para ascender. Os movimentos populares, por sua vez, são aquisições mais recentes da luta democrática e, ainda assim, recebem grande influência dos escolarizados, vide o MTST de Guilherme Boulos. Aos pobres não escolarizados do Brasil o que resta é o que Boaventura de Sousa Santos chama de 'democracia de baixa intensidade': por um lado, garantia de direito ao voto democrático e, por outro, cotidiano vivido como nas Ditaduras (pense nas polícias como gestoras 'públicas' das periferias). O desgoverno do deputado Jair vem prometendo estender às classes médias que não o apoiam o mesmo tratamento dispensado aos subalternizados. Foi o que aconteceu no período mais duro do Golpe Civil e Militar de 1964. Suspenderam-se os privilégios dos abastados que tiveram a 'desfaçatez' de afrontar o regime. Foram mortos e torturados como se fossem 'qualquer um'. As classes médias temos sido também importantes guardiões da memória do horror das décadas de 60 e 70 do século passado. Talvez por isso as bravatas, ameaças, gritos de guerra do neofascimo jairista nos assustem tanto. O fato é que, anestesiado pela condição de cidadão de primeira classe, o middle class de esquerda made in Brasil está aparvalhado, não sabe o que fazer (Os partidos de esquerda poderiam ser bons condutores da população, mas já passa da hora de aceitar que os partidos são parte determinante da própria crise e não há muito o que esperar deles). Chego até aqui para dizer que creio que quem está mais bem preparado para o momento que se aproxima são os movimentos identitários de minorias. Negros, LGBTs, Movimentos Feministas, ou movimentos organizados como os Sem Terra, ou os Sem Teto, já lutam, desde sempre, contra um inimigo que planeja dizimá-los. Que prega o extermínio como solução. Independente de sua origem social, ou do grau de sua escolarização, o integrante de cada uma dessas chamadas minorias está condicionado ao status do que Jessé Souza chama de 'subcidadão', Judith Butler diz 'ungrievable' e Hannah Arendt descrevia como 'pária'. Ou seja, sua existência não importa. A sociedade 'de bem' não verterá lágrimas diante da destruição de seus corpos. É isso que o deputado Jair, aquele que nunca será presidente, promete. Para todos os que não compactuem com sua ideologia, o puro e simples extermínio. Há que ter casca grossa pra enfrentar. Tem que ter 'expertise'. Tem que ter habilidade. Tem que ter disposição. As minorias militantes têm.
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