Tuesday, October 14, 2025

14 de outubro de 2015


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A manchete de hoje poderia ter sido:

"Apenas 33% dos leitores da Folha desaprovam a Gestão Alckmin".

Ou, então:

"67% dos leitores da Folha consideram o Congresso ruim ou péssimo".

Também cabia:

"Fernando Haddad tem 56% de reprovação entre leitores da Folha".

Ou mesmo:

"64% dos leitores da Folha acham que a crise tende a piorar nos próximos meses".

Mas, claro, a opção foi: "61% dos leitores querem renúncia de Dilma".

E apenas no subtítulo: "Pesquisa Datafolha feita - COM O PÚBLICO DA FOLHA - mostra que 77% classificam o governo como ruim ou péssimo".

Não é uma pesquisa sobre o Governo, embora pareça. É uma matéria sobre perfil de leitores do jornalão do Frias Filho.

O perfil que todo mundo já sabe qual é:

"Metade dos entrevistados (48%) tem renda familiar mensal superior a dez salários mínimos, 76% têm ensino superior, 83% são do Sudeste, quase 60% não têm partido de preferência, mas 59% votaram em Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da eleição presidencial de 2014".

O aspecto mais relevante, sendo esta uma pesquisa de perfil de consumidor, e que, disparado, mereceria a manchete, diz respeito à percepção que o leitor tem do lugar que o jornal ocupa no espectro ideológico:

"O maior grupo de leitores (30%) posicionou a Folha como uma publicação de centro-direita. Para 26%, o jornal é de centro. Outros 22% o identificam como de direita. O jornal é visto como de centro-esquerda por 12%. E de esquerda por 5%".

A miopia política dos 5% que a classificam "à esquerda" está longe de desmentir o que já se sabe, mas a pesquisa comprova: quase 90% desses leitores altamente identificados com a linha editorial da Folha têm perfeita consciência das convicções políticas que o jornal defende. 

Na prática, os resultados da amostragem confirmam a clara via de mão dupla entre o que se publica e o que se espera que a Folha publique. Em detrimento, é claro, da proverbial imparcialidade que a propaganda anuncia há décadas.

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