Thursday, November 30, 2023

30 de novembro de 2021

Putz! Se ela não mencionou, então o Aristides pode não existir? E, se não existe, ele não pegava o Bolsonaro? E, se não pegava, eu ainda sou homofóbico? Se não há o Aristides, eu me intrometi ou não em questões da vida privada do Bolsonaro? 🤔



30 de novembro de 2020

A capital estava na fase verde desde o último dia 9 de outubro. À época, o governo do estado prometeu uma nova reclassificação para 16 de novembro.

16 DE NOVEMBRO!

No entanto, na data marcada, Doria e as autoridades de Saúde paulistas alegaram que um problema no sistema de dados sobre a pandemia do Ministério da Saúde tinha comprometido a análise principalmente das estatísticas de novos casos e mortes causadas pelo coronavírus.

Mesmo assumindo que o estado tinha apresentado 18% de aumento nas internações pela covid-19, o que podia ser comprovado porque esses dados não passam pela pasta federal, o governo paulista adiou a reclassificação em duas semanas.

18% DE AUMENTO NAS INTERNAÇÕES!

Assim, marcou a nova avaliação para o dia seguinte ao segundo turno das eleições municipais.

DIA SEGUINTE AO SEGUNDO TURNO!

Foram 52 dias sem uma nova reclassificação.

52 DIAS!

Anteriormente, até o início de setembro, o governo paulista vinha fazendo avaliações quinzenais do Plano São Paulo.

30 de novembro de 2018


NOTIONLESS PEOPLE

Uma casa de lanches em algum lugar do Brasil serve um sanduíche de carne com repolho roxo. Destacou em negrito 'olho roxo' no cardápio e batizou a comida de 'Maria da Penha'. O assunto bombou ontem o dia inteiro e a Mídia Ninja mostrou agora há pouco que em Salto SP, num grupo de discussão em que se comentava o episódio, um policial militar e o vice-presidente da OAB na cidade fizeram a seguinte piada: 'Quero o X-Marielle'. Resposta: 'Com muitas azeitonas?'. Lembrei de uma cervejaria, salvo engano, de Goiás que colocou em seu chopp escuro o nome de 'Afro'. Os três absurdos em questão já foram, ou estão sendo desconstruídos pela reação maciça de repúdio que rapidamente se configurou nas redes sociais. O chopp já deixou de ser 'Afro' pra ser 'Black'. Mas, óbvio, assim como a graçola perversa das 'autoridades' de Salto foram devidamente printadas, propagandas espalhadas pelas centenas de distribuidores garantem que a gente possa documentar o que a Klaro fez no inverno passado. Ainda falta muito para que o espaço social no Brasil esteja devidamente regulamentado. As plataformas de compartilhamento, como Facebook, Twitter e outros, têm oferecido um meio para o enfrentamento de vícios privados que se manifestam na esfera pública. Pode ser um bom prenúncio de futuro, mas será apenas um paliativo enquanto nossas instituições permanecerem como mera extensão das oligarquias e seus privilégios.

30 de novembro de 2018

Por sorte eu vi trechos da palestra do Haddad na gringa. Eu sempre caio nas iscas da imprensa, igual essa da Folha destacar que ele disse que não se deve torcer contra o governo do Bolsonaro. Não foi bem isso, o contexto não permite tal leitura, mas a esquerda de entretenimento corre abanando o rabinho para a pauta que o jornal dos Frias atirou no gramado. Sem pretender ser exaustivo, lembro que o PT levou o Lula por mais de 8 mil quilômetros Brasil adentro (há um livro registrando isso, organizado pela Cleusa Slaviero): no Sul a Caravana sofreu um atentado a tiros! O PT esteve em vigília em SBC até a prisão do Lula e, a partir daí, tem garantido a presença constante de uma vigília cívica na entrada do prédio da Polícia Federal onde o ex-presidente está confinado. O PT adotou uma estratégia arriscadíssima (e, como se viu, muito bem sucedida) de manter o Lula como candidato até o último instante, costurou alianças no país inteiro, tirou o Haddad de 4% de intenções nas pesquisas para perder por 10 milhões de votos para um candidato que aglutinou todo o Centro ao conseguir o apoio incondicional das principais lideranças do neo-pentecostalismo, além de protagonizar o episódio mais grotesco de fraude eleitoral da História, pelo menos recente, da República. Ainda assim, discute-se, pretensamente a sério, se o PT abandonou o Lula. Qual a prova de hoje? O Haddad, segundo a Folha, falou que não se deve torcer contra 'só pelo poder'. Così è (se vi pare). Este é o nome de uma das mais famosas peças escritas por Luigi Pirandello, cuja obra é dedicada a pensar o dilema entre o ser e a aparência, a realidade e a ilusão. Com seus textos Pirandello viria a estimular de forma decisiva o desenvolvimento do teatro do absurdo. 'Assim é (se lhe parece)' é um bordão para o debate em redes sociais do Brasil de 2018.

30 de novembro de 2016

El Tantan Dallagnol deu uma de louco à tarde e a cacofonia fundamentalista respondeu prontamente. Ao chamado do muezim zap zap, no horário de culto estabelecido pela sagrada lei da Coxolândia - o Jornal Nacional - os zumbis zumbiram. Quem estiver acreditando que os paneleiros se arrependeram de alguma coisa, tire seu cavalo da chuva. O que os move é o mesmo impulso antipolítico, aquela velha opinião formada sobre tudo, por isso tão aparentado ao fascismo. Não são um anti-movimento que vai se desintegrar no próximo momento. Não entraram nessa por diversão. Estão por aí desde que o mundo é mundo. Comem cérebros. E domingo marcaram micareta na Paulista. Vai rolar a festa. Darwin explica.


30 de novembro de 2016

Lembra, quando, depois daquele fatídico domingo de abril, a Dilma desceu a rampa do Planalto para iniciar o período de afastamento previsto em lei até que o impeachment fosse - ou não - aprovado em definitivo pelo Senado? Ela parecia meio sozinha, não houve a prometida passeata com os movimentos populares até o Alvorada, etc. O Lula estava lá. E chorou. Copiosamente. Caras que nem o Lula têm a capacidade de antecipar cenários. De intuir situações complexas. De "enxergar" o que vem pela frente, antes. O que ele viu, nós estamos vendo, também. Agora. Por isso essa vontade de chorar.

30 de novembro de 2014

ACRESCENTE 9 ZEROS

A campanha deste ano teve um custo de quase 5 bilhões de reais.

A maior fatia, 1, 2 bilhão, foi para os 17 mil candidatos ao cargo de deputado estadual.

Você não leu errado. Dezessete MIL candidatos. Cinco BILHÕES de reais.

"Governadores" torraram R$1.100.000.000,00. "Deputados federais"? 100 milhões a menos.

O levantamento - feito pela Folha de São Paulo - considerou as despesas de todos os candidatos, diretórios e comitês, tanto vencedores como derrotados, que concorreram para todos os cargos que tiveram disputa neste ano.

Grandes empresas, como Friboi e Odebrecht, fizeram as maiores contribuições. As dez maiores doadoras entraram com um quinto do total.

Os gastos em publicidade representaram metade do dinheiro investido, seguidos por despesas com pagamento de pessoal e com custos de transporte.

A Folha chegou a esses números com base nas prestações finais de contas fornecidas pelas campanhas eleitorais ao TSE . Ou seja, sem considerar o indefectível Caixa 2.

Não há como imaginar qualquer melhora no Congresso e na correlação de forças com o Executivo se não se confrontar esse estado de coisas.

Um dinheiro desse tamanho não abandona a liquidez das aplicações financeiras impunemente. Não existe almoço grátis. Muito menos almoço grátis com nota fiscal de 5 bilhões.

30 de novembro de 2013

Inúmeros textos apócrifos atribuídos a L. F. Veríssimo circulam pela internet. Este não é um deles:

PESOS E MEDIDAS

[...] Recorre-se tanto à frase “dois pesos e duas medidas” para reclamar isonomia no julgamento dos casos de corrupção no país que eu proponho o fim da hipocrisia. Oficialize-se, já, dois sistemas de pesos e medidas diferentes no Brasil, um que vale só para o PT (Sistema 1) e outro para os outros, principalmente o PSDB (Sistema 2).

As previsíveis confusões — desencontros em construções, conflitos na medição de terras etc — seriam resolvidas por um conselho arbitral formado por representantes dos dois sistemas. Desde que não fosse presidido pelo Barbosa, claro.


Veríssimo, antes que alguém venha dizer, não é "petista". Passou oito anos descendo a lenha nas opções conservadoras do Lula e não dá mole pra Dilma.

Já Juca Kfouri toma o cuidado de terminar seu artigo lembrando que também não é (e nem foi, jamais) do Partido dos Trabalhadores:

OFENDE PERGUNTAR?

Imagine que o helicóptero do Supla, que não tem helicóptero, mas é filho do senador Eduardo Suplicy, do PT, que nunca presidiu o Santos, seja pego com 500 quilos de cocaína.

Você acha que o caso seria tratado com a mesma discrição do caso do helicóptero do deputado Gustavo Perrela, que é filho do senador aecista Zezé Perrela, que foi presidente do Cruzeiro, aeronave pega com 500 quilos de cocaina?

Tudo bem.

Nem Gustavo é conhecido como Supla, nem Zezé tem a importância política de Suplicy.

Qualquer que fosse o político petista envolvido num caso semelhante seria tratado com tanta condescendência?

Em tempo e novamente, para aplacar iras mal dirigidas: jamais fui petista.


É importante ficar atento para as manifestações de repúdio que não vêm da militância. Isso mostra que o que vem sendo chamado de "indignação seletiva" está se tornando cada vez mais visível e que o sentimento de que tal seletividade é inaceitável está cada vez mais disseminado.

Monday, November 27, 2023

27 de novembro de 2020


Apesar de ser assunto delicado, é absolutamente legítima a preocupação do eleitor paulistano com as condições de saúde do candidato Bruno Covas. O prefeito está em pleno tratamento de doença muito grave e a possibilidade de não conseguir terminar um segundo mandato é real.

A figura do vice, nesse contexto, ganha enorme importância.

Ricardo Nunes é homem do MDB (de Temer, Cunha, Geddel, entre outros), alinhado à Bancada da Bíblia.

Tem ligação com a Comunidade Canção Nova - abertamente bolsonarista - e proximidade com o padre Paulo Ricardo, o 'Malafaia católico', parceiro de Olavo de Carvalho.

Além do próprio Bruno Covas ter votado a favor do impeachment de Dilma Rousseff, Nunes quando vereador esteve ligado à construção do discurso fundamentalista que deu base ao Golpe de 2016 e pavimentou a caminhada de Bolsonaro ao Planalto.

Dissemina fakes a respeito de 'ideologia de gênero', associa homossexualidade a pedofilia, coloca-se a favor do Escola Sem Partido e contra os direitos reprodutivos.

Um cardápio completo à moda da ministra Damares, ou dos 'bispos' da Universal.

Covas justifica a escolha do vice por ser quem melhor representa o 'arco de alianças' que sustenta a candidatura do PSDB.

Sem dúvida, a chapa Covas - Nunes é hoje 'a mais completa tradução' das forças regressistas em São Paulo. Um blend do fascismo fundamentalista que se espalhou pelo país nos últimos 4 anos.

É preciso que a cidade inteira saiba quem é o invisível vice. Um bolsonarista autêntico na capital do Tucanistão.

*

Na imagem: um bolsonarista de sapatênis que passa e faz que não vê a pobreza e um bolsonarista raiz que ninguém vê. Eis a chapa Covas - Nunes.

Saturday, November 25, 2023

25 de novembro de 2019


Witzel seria aquele grandalhão risível, não fosse o fato de ser um genocida. Genocídio, no dicionário, quer dizer: "extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso".

Segundo o pesquisador Gabriel Feltran, "vivemos num país em que mais de 40 mil jovens - quase sempre pobres, quase sempre pardos e pretos, quase sempre funcionários baixos no mundo do crime - morrem assassinados todos os anos".

Eles representam quase 80% dos 60 mil homicídios anuais desde 2015, segundo o Mapa da Violência no Brasil.

"No Brasil todo", continua Feltran, "já são mais de 1 milhão de assassinados em três décadas. Vinte Maracanãs lotados de pessoas exterminadas por armas de fogo".

A PM e a Civil contribuem para esse quadro. No ano passado elas foram responsáveis por mais de 6 mil mortes em todo o país.

Mas repare que, apesar de termos uma das polícias mais letais do planeta, os 'meninos do crime' estão, principalmente, se matando uns aos outros.

A classe média conservadora resolve essa equação botando a culpa nos 'meninos' e em suas famílias. A classe média progressista patina num charco de desinformação, auto-engano e escapismo. Chora sempre que um 'inocente' é pego no fogo cruzado.

O genocídio em curso tem como característica determinante a seletividade de um Estado que não garante modos de sobrevivência à grande maioria de sua população e que, portanto, não se responsabiliza pela vida de seus jovens.

Os primeiros mortos identificados na chacina do Fallet Fogueteiro no início do ano foram Vitor dos Santos Silva, de 15 anos, Roger dos Santos Silva, de 17, e Enzo de Souza Carvalho, de 18. As famílias reconheceram prontamente que os três tinham vínculo com o crime.

Mas quem, em sã consciência, poderia usar a palavra 'traficante' para designar meninos de 15, 17 e 18 anos? O que pode, além de uma estrutura social doentiamente injusta, determinar as diferenças entre as mortes dos jovens atletas do Ninho do Urubu e o sangue vertido dos corpos de Vitor, Roger e Enzo na biqueira da Eliseu?

Enquanto a sociedade brasileira deixar entregues à própria sorte suas crianças negras e pobres, enquanto não houver um clamor humanista que resgate da violência racista e estrutural aqueles que seriam o 'futuro da nação', continuaremos enxugando gelo. Ou melhor, enxugando sangue derramado no chão de lajotas das bibocas das quebradas. Esperando, temerosos, a chegada do 'fascismo' que já está aqui desde 1500. E que não atinge, nem ameaça, apenas alguns poucos privilegiados.

25 de novembro de 2018

O XOU DO XUXO

ErneXto AraúXo cometeu mais um post em seu 'Metapolítica'. O blogueiro reaça está convicto de que o X da cuestão é o marXismo, embora o assunto seja, pasmem, OVNIs. Se a gente girar o disco do XanXeler ao contrário, vai ouvir a leitura de um tuíte supremacista do Donald Trump. Lido a contrapelo, no entanto, aquilo que se pretendia Além da Imaginação, ou, pelo menos, Arquivo X, não passa de uma nave da Xuxa, que gira, solta fumaça, acende a luzinha, sobe e desce com o elevador, mas não leva a lugar nenhum. Programa indicado para onanistas de todas as idades.



25 de novembro de 2013

FERNANDO WHO?

Vídeo inédito, obtido pela Folha, mostra Geraldo Alckmin e Fernando Haddad cantando o Trem das Onze de Adoniran Barbosa em Paris. O caso se deu quando os dois foram à França promover a capital paulista como sede da Expo 2020. Naquele mesmo momento em que rolava a festa os protestos que varreriam o país tinham início em São Paulo.

A reportagem, grande, é matéria da ILUSTRÍSSIMA, espécie de caderno de cultura da Folha de São Paulo, dedicado a textos longos, reflexivos, mas recebeu chamada de primeira página. Foi incluída também na pauta do TV Folha, possível de se assistir na TV Cultura ou pela internet.

O autor se chama Fernando Mello. Vejo sua imagem no TV Folha. É o que costumamos chamar de "um mocinho": corte de cabelo, pelos ralos no rosto, casaco improvisado de gente recém chegada à idade adulta.

Dou um google. Não encontro nada sobre Fernando Mello, jornalista. A crer nesse indicador também deve ser novato no ofício.

Fui estudante de jornalismo. Lia na Folha de São Paulo, todos os dias, Paulo Francis, Cláudio Abramo, Tarso de Castro, Sérgio Augusto, Lourenço Diaféria, Alberto Dines, Gilberto Vasconcellos. Quando Frias Filho resolveu reformar o jornal no que ele é hoje, a primeira coisa que fez foi contratar duas dúzias de focas. O desmonte do dream team que listei ali atrás demorou um pouco, mas com o tempo, viria a ser completo. Frias inventou em seguida o Manual Geral da Redação. Um punhado de colegas meus foi dormir com a carteira assinada. Estávamos no 3º semestre do curso.

Explico a reminiscência: em geral, reportagem de investigação com assinatura é privilégio de jornalista tarimbado. Se Fernando Mello ainda não tem currículo, com certeza cumpre ordens, orientado passo a passo pelos editores. O Manual Geral da Redação foi criado para sistematizar essa prática. Tira autonomia do repórter, aumenta a padronização e, com isso, controla melhor os resultados. Situação que gente jovem suporta com mais naturalidade.

Na prática o artigo começa por descrever minuciosamente o coquetel e o karaokê para em seguida fazer uma rápida memória das manifestações de rua que eclodiram em São Paulo nos mesmos dias em que o governador e o prefeito foram a Paris. De posse desses dois conjuntos de informações, passa-se a refletir sobre as causas das chamadas marchas de junho. Uma pesquisa realizada em 18 países latino-americanos e a opinião de dois especialistas internacionais servem de base para concluir que a resposta está, entre outras, no "desgosto dos cidadãos com os políticos", fruto do distanciamento que os representantes mantêm em relação àqueles que representam.

A decisão de viajar em tempos de crise confirma o diagnóstico? Afinal, não são Alckmin e Haddad os que soltam a voz no rega-bofe à francesa enquanto os tapuias ateiam fogo à cidade? O texto não afirma, prefere traçar um paralelo, pois, do título ao arremate, Fernando Mello é um primor de "Folhismos". Faz uso das mesmas insinuações, ironias, ambiguidades, referências cultas e do ar vagamente investigativo que tanto rendem ao diário paulistano acusações de esnobismo e tendenciosidade.

De investigativo quem procurar encontra muito pouco. De reflexivo ainda menos, já que o momento de amarrar a série de pontas soltas que vão se multiplicando, de Valéry a Kennedy, do policial ferido aos Demônios da Garoa, não chega nunca. Apesar de tudo na escrita de Fernando Mello querer "produzir sentido", a partir das contradições entre todos os elementos que vão construindo sua "versão dos fatos" muito pouco se deduz além do "fato" de que são... contraditórios. Assim como nada sobre o que se fala, no artigo, é claro, quase nada que o artigo diz, tampouco, tem clareza.

De toda essa lubrificação sobra concluir que Fernando Mello veio para mostrar que há mais semelhanças entre o tucano e o petista do que sonha nossa vã filosofia.

Parece sensato desconfiar que haja interessados em aproveitar o pico de visibilidade dos dias que antecedem a escolha da cidade que irá sediar a EXPO 2020 para colar a imagem de Haddad à de Alckmin. No momento que coincide com o fim do julgamento da AP 470 e na iminência de ter que voltar os holofotes para o Mensalão mineiro e para o propinoduto do Metrô e da CPTM, a Folha levanta suspeitas sobre si mesma ao publicar artigo tão capcioso. Tal aproximação fragiliza, sem dúvida, o prefeito e pode beneficiar o governador, ainda que seja só por embaralhar sua imagem com a de Haddad, postergando assim o reconhecimento de que Alckmin e o PSDB estão prestes a se tornar a proverbial "bola da vez".

Pelo fato justamente de ter passado por uma escola preparatória de jornalistas não me seduzo pela ideia de que o noticiário é manipulado de maneira unívoca pelos interesses das grandes corporações. Essa crença, penso, obscurece o fato de que a informação surge a contrapelo dos desejos dos donos de jornais, que, assim, estão também sujeitados pelas regras do jogo, como queria Cláudio Abramo em sua autobiografia.

Abramo, que não esquecia que o jogo tem regras, mas também sabia discernir entre parceiros, rivais e inimigos, bateu de frente com seus patrões mais de uma vez. Comandou a Folha em tempos que antecederam a Reforma Editorial de Frias Filho. Viu o Otavinho crescer, mas já não estava presente quando o jornal se juvenilizou. É provável que se insurgisse contra a ideia de uma ferramenta que torna mais fácil à voz do dono se fazer ouvir de maneira indireta, disseminada entre as editorias já sem personalidade, como o Manual da Redação veio permitir. Interesses sempre haverá. Escusos às vezes. Coisas que é preferível que se diga de maneira cifrada. Focas, para essas eventualidades, são extremamente úteis.



Friday, November 24, 2023

24 de novembro de 2015

ALIADOS PROPÕEM TROCA DE CASSAÇÃO DE CUNHA POR IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF

A oposição não abandonou Eduardo Cunha. Trata-se de jogada ensaiada. Encenam o emparedamento do presidente da Câmara para que ele deflagre o pedido de impeachment. É a mesma estratégia de terra arrasada que tivemos ao longo de todo ano. O Ministro Jacques Wagner tenta convencer os petistas mais afoitos que o “desgaste” de apoiar Cunha é o preço a se pagar para manter o impeachment longe da pauta. No Facebook há uma grita para que o PT se mostre impoluto. É mais ou menos como ser atropelado em cima da faixa de pedestres por um carro que você viu que não ia parar e estar coberto de razão, porém... morto.



Tuesday, November 21, 2023

21 de novembro de 2022


ERRAMOS CARLOS

O trocadilho, Freud nos ensina, tem que conter um não sei quê de verdade que se revela a contragosto. É lapso, erro, escorregão. Trocadilhos gratuitos, só para os iniciantes na arte do tropeço, da topada, da azia paranoica que reflui da paranomásia. Trocadilho bão expõe.

A Folha de São Paulo tem uma seção Erramos. A antologia de vexames do jornalão é portentosa. Dia 30 de outubro de 2022 a Folha 'matou' o Tremendão, o eterno amigo do Rei, o galalau mais amado do rock'n roll tupiniquim.

Consertou em seguida, como de hábito, porém, a Inês, ao contrário do coautor de 'Além do Horizonte', já era morta.

Erasmo sacou a graça contida na situação e no dia de voltar pra casa lascou um tuíte cheio de detalhes como resposta. Foi, o gentle giant, enormemente acridoce:

"Bem simbólico… depois de me matarem no dia 30, ressuscitei no Dia de Finados e tive alta do hospital! Agradeço a Deus, a todos que cuidaram de mim, rezaram por mim e se torceram pela minha recuperação… Essa foto com a Fernanda traduz como estamos felizes".

P.S. "se torceram" pela recuperação é o lapso dentro do lapso. Coisa de poeta.


21 de novembro de 2015

NÃO SE AFOBE NÃO, QUE NADA É PRA JÁ (01:38)

Cada dia a mais que Eduardo Cunha fica na presidência da Câmara, mais constrangedor para quem colocou ele lá. A Mara Gabrilli pode fazer discurso inflamado e o Jornal Nacional pode transmitir. Mas tá cheio de fotos de tucano abraçadinho com o nosso maior exportador de carne moída. Tipo "eu sei o que você fez no verão passado".

POR QUE NÃO? (10:49)

Não colaborar para a derrubada imediata de Eduardo Cunha é uma estratégia legítima para barrar a pretensão de eleger outro sabotador para a presidência da Câmara. Jarbas, por exemplo.

Cunha permanecendo é apenas um pato manco, mas com uma ficha criminal que desmoraliza todo mundo que andou com ele. Enfraquece os verdadeiros articuladores da loucura que vivemos (sim, já não vivemos mais) ao longo de todo esse ano. Leia-se PSDB. Cunha sempre foi o "nosso filho-da-puta" deles. Bote outro "simpatizante" da causa BBB-tucana na cadeira do Cunha e o Inferno continua.

Política não é uma coisa limpinha. A metafísica legislativa do PSOL é um blefe. O turning point da conspiração golpista se deu com a chegada das denúncias de dinheiro na Suíça em nome da família Cunha. E isso quem conseguiu foi o Ministério da Justiça. O resto é retórica. A gritaria da oposição (à direita e à esquerda) tem nome: "redução de danos".

Late mais alto que daqui eu não te escuto.

21 de novembro de 2013

Vamos reconhecer? Brasileiro lincha. Linchar, no Brasil, tem certa aceitação. O padrasto do menino Joaquim, de Ribeirão Preto, por exemplo, escapou por pouco de ser massacrado pela multidão.

O Gaspari escreveu ontem: "Linchamentos [..] são disparados por dois sentimentos. O primeiro, selvagem, é o da Justiça com as próprias mãos. O segundo é produto de uma racionalização que, trocada em miúdos, cabe num simples 'bem feito'".

E completa: (passado algum tempo) "todos os participantes do jogo do 'bem feito' acharão que o malfeito, quando comprovado, foi responsabilidade do 'outro'".

Essa é a garantia do linchador. O crime se dilui no grupo. Sempre é possível dizer que foi o 'outro'.

Agora,

a)
Ao contrário do que se diz, Zé Genoíno não está sendo tratado como 'um preso comum'. Ele é peça fundamental para o plano de execração pública que o STF está criando. Justamente porque NÃO É um 'preso comum'. Um 'preso comum' não rende os dividendos de mídia que Dirceu e Genoíno estão rendendo. O plano não daria certo se o preso fosse (e aqui, em outro sentido) 'outro'.

b)
Ao contrário do que se poderia supor, tratá-lo como um 'preso comum' não melhora em nada a vida dos outros... 'presos comuns'. Assim como num linchamento nada além do surto grupal é atendido. Lembrar dos presos 'comuns' das masmorras brasileiras, ou dos pacientes do SUS em suas intermináveis filas SÓ NESSA HORA é pura de-ma-go-gia!

Em qualquer linchamento o único ganhador É QUEM LINCHA.

É um ganho mórbido. Incompreensível para qualquer pessoa que tenha o mínimo de dignidade moral. Inaceitável para quem pressupõe a existência de qualquer 'outro' além de si e dos elementos do grupo que o acompanhará em seus ataques e fugas primitivos. Quem lincha ganha. Todos os outros perdem.

Porém:

No caso do tratamento que José Genoíno está recebendo há um grande - e claríssimo - beneficiário: Joaquim Barbosa. Se o ex-guerrilheiro e ex-presidente do PT não morrer (pois aí, tudo muda de figura), o ministro terá oferecido a cereja do bolo do banquete dos chacais que começou a ser servido no dia 15 de Novembro de 2013. E esse regalo a rapaziada que lincha decerto tão cedo não irá esquecer.

Monday, November 20, 2023

20 de novembro de 2016

O mundo, de maneira nenhuma, nem nunca, corresponde à binariedade do Facebook. Pão, pão, queijo, queijo, aquilo e não aquilo outro, macho, fêmea, claro, escuro, isso apenas não existe. Durante 3 anos, todos os dias, sem faltar um único sequer, li e postei procurando escolher uma perspectiva - e não duas - sobre as pautas que a rede apresentou. Não se tratou de "achatar" a realidade, ignorando os múltiplos planos que inevitavelmente a compõem. Foi o esforço de adotar um ponto de vista para ser visto. Em política, vale a posição que se assume. Não há espaço, na política, para o "que se tem em mente". A mente é lugar do incomunicável, do íntimo que não se acessa. A política, ao contrário, é das praças, do público. E só a posição que se assume traduz o íntimo do "actante" político. Todas as vezes que me meti a tirar chinfra de dialético, o Facebook trouxe, na mesma hora, alguém pra pegar um dos elementos da antítese proposta, eleger como o "meu equívoco" e, ato contínuo, abduzir o debate para um dos dois pólos e matar a análise. 'Dia' de dialética, é o mesmo 'dia' de diálogo e diabo. O amigo inconveniente, no entanto, é que estava certo. Política não é análise. Mas, divago.

Assumir a posição inegociável de "dilmista", que é o que eu vinha dizendo, tomei como principal atitude desde as Jornadas de Junho de 2013, foi o modo de comunicar que, entre todas as facetas do cubo mágico insolúvel da conjuntura Brasil, aquela - e não outra - era a que eu escolhi como a melhor. O lugar unívoco, não ambíguo, é o corolário da política. Pois a política é a invenção humana que institui a presença do outro. Fora da política, o outro é o bárbaro. É o invasor. A política, enquanto espaço de disputa, legitima a existência do outro. Instaura o respeito. Por tudo isso, desmisturar é fundamental para a prática política. O mundo permanece dialético. Contraditório. Irredutível ao "um". A política não muda o mundo. A política estabelece consensos transitórios. Tensos porque fugazes.

Houve, no entanto, uma mudança. Nosso mínimo arcabouço institucional voltou ao pó de onde viera. As pequenas conquistas derivadas do frágil pacto advindo da Constituição Cidadã de 1988 estão, Deus queira momentaneamente, suspensas. Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína. Por isso, tudo que não seja o pasmo, hoje soa, a meus ouvidos, farsa. Hashtags me dão no saco. Previsões, mesmo as mais obviamente apocalípticas, parecem negacionismo. O que prever, diante do caos? Como assumir posição em terreno movediço? Como "tocar a bola pra frente", se as regras do jogo foram abolidas?

Poderia esticar esse textão até transformá-lo na diatribe mais inócua de todos os meus domingos ensolarados lá fora, mas não há mais nada que eu tenha a dizer a mais. Nenhuma "chave de ouro", frase bacana, conclusão, nem pós-vendas. É aqui, no lugar suspenso dos apalermados, que me encontro. Quer dizer, perdido.



Sunday, November 19, 2023

19 de novembro de 2015

Contardo Calligaris, na Folha: "Os jihadistas atacam em nós o que mais os seduz. O que eles odeiam são os atos e os pensamentos que eles precisam destruir dentro de si".


Calligaris está usando essa mesma explicação para todo e qualquer conflito desde os quebra-quebras durante o encontro da OMC em Seattle em... 1999. "Destroem as vitrines para não ter que lidar com o desejo de ter tênis da Nike".

Usou no 11 de Setembro. "Explodem os prédios como forma de negar a secreta admiração pelo american way of life".

Nesse divã fundamentalista do Contardo, não há jogo político, interesses econômicos, planejamentos estratégicos, false flags, conspirações, ou armamentismo frio e calculista.

Já seria um pensamento raso, na linha do "a inveja mata", se fosse análise aplicada a um homem só. Adaptado a um fenômeno sócio-histórico e, principalmente, geopolítico, ganha contornos de mistificação. O fato de ser um argumento prêt-à-porter piora bastante.

19 de novembro de 2019

Começou a passar o trailer do novo documentário sobre o impeachment da Dilma onde aparece o Carlos Marun dizendo que se a acusação contra a presidenta fosse ter 'roubado um picolé' ele teria votado contra ela da mesma maneira. Dias atrás prenderam o Joesley de novo por causa de delações requentadas que o acusam de financiar a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara. Vejamos: se os deputados foram comprados, nada teria evitado a eleição do Cunha (a esquerda continua até hoje botando a culpa na má influência do Aloizio Mercadante). A eleição do Cunha, por sua vez, tinha o compromisso de travar o governo da Dilma. Missão dada é missão cumprida, travou (mas a esquerda continua botando a culpa na escolha do Joaquim Levy). Chegado o momento do impeachment, mais dinheiro foi enviado para comprar votos de deputados e senadores (essa culpa, a do impeachment ter dado certo, para a esquerda, é do José Eduardo Cardozo). Temer manteve-se no poder mesmo com 3% de popularidade porque, mais uma vez, comprou o Congresso. Bolsonaro foi eleito disparando toneladas de mensagens pelo WhatsApp que custavam até 12 milhões o 'pacote'. De onde saiu todo esse dinheiro? Se não do bolso de gente muito rica? Essa é a explicação! Acabo de ler a entrevista que Paulo Arantes deu para o Brasil de Fato, uma entrevista confusa, cheia de contradições internas e hipóteses não testadas, mas que tem a seguinte passagem:

"A encrenca brasileira é essa: abriu-se a porteira da absoluta ingovernabilidade no Brasil. É o que ficou claro na greve dos caminhoneiros, quando os militares se apavoraram, porque viram que não tinham um efetivo para controlar aquilo, as milícias tomaram conta em boa parte e o conflito para onde vai a conta, ficou migrando. Não há mais nenhum tipo de acordo de concertação social entre as várias categorias sociais, empresários, bancos, agronegócio… Não há mais acordo possível. Ficou claro isso nos últimos cinco anos. Tanto é que ocorreu o impeachment, que era absolutamente desnecessário.

Havia a possibilidade de um rearranjo da casa, como foi no fim da ditadura, para o campo que pode ser chamado de democrático, que vai da extrema esquerda até a centro direita, e repactuarmos alguma coisa depois nos moldes da Constituição de 1988. Como foi no fim da ditadura. Mas o que nós temos agora é um comportamento destrutivo da classe dominante brasileira que está apostando todas as fichas em tirar sua castanha do fogo com o braço da delinquência fascista. Ferre-se o resto. E isso é realmente o inacreditável. Houve várias chances de acordo desde que se instaurou a crise da Era Lulista. Mas eles resolveram puxar o tapete, fazer o impeachment e abrir a porteira do inferno. Um caos político e social".

É cristalino: a ingovernabilidade é a estratégia (mais do que um 'comportamento') destrutiva da classe dominante (e de ninguém mais) para vedar o crescimento de qualquer projeto do 'campo democrático'. Caos político e social. 'Inacreditável', como define o professor Arantes e, no entanto, absolutamente real.

A esquerda assiste a tudo isso atônita e insiste em 'explicar' a crise, as derrotas pontuais, os ataques, colocando-se como um player que disputa em iguais condições frente aos adversários. Auto-engano, ingenuidade, pretensão. Tínhamos, é verdade, a presidência da República e o maior líder popular da História do país. Ambos foram nocauteados. E todo esse processo foi pago pelo andar de cima. É um golpe. Trata-se de um golpe. Inequivocamente golpe. "Ferre-se o resto".

Monday, November 13, 2023

13 de novembro de 2016


CAIA NA ESTRADA E PERIGAS VER

Nas duas paradas que fez para comer em Pelotas, uma na ida e outra na volta do Uruguai, Dilma, segundo matéria do UOL, virou atração tipo "celebrity".

A reportagem menciona que, além de se mostrar simpática com todo mundo que apareceu e não dar bola pra imprensa, nos dois restaurantes a presidenta fez questão de conhecer o pessoal da cozinha. Em outras palavras, os trabalhadores que não são vistos pelo ambiente onde fica a clientela.

Isso me fez lembrar de um causo contado pelo Hilton Acioli, amigo de quem falei outro dia, quando Disparada e A Banda comemoraram 50 anos da vitória no II Festival da Record.

Hilton vivia de compor música para publicidade e, certa feita, por volta de 71 ou 72, a produção resolveu contratar ninguém menos que Luiz Gonzaga para interpretar um jingle. Gonzaga, pra quem não sabe, viveu mais de 10 anos de relativo ostracismo a partir do advento da Bossa Nova, da Jovem Guarda e dos programas musicais de altíssima audiência na TV dos anos 60. Ele que foi o maior vendedor de discos do Brasil ao longo de toda a década de 40, só retornaria ao sucesso de massas quando os ventos da redemocratização já sopravam, ali pouco depois de 1980.

Gonzaguinha, a essa altura, um songwriter premiadíssimo, foi fundamental para o "revival" do, agora rebatizado, pai: Gonzagão.

Antes disso, ao longo dos anos 70, Gonzaga havia ganhado, para as plateias dos grandes centros, aura cult, de cantor de MPB, uma turma que, nas palavras de Caetano Veloso, naquele tempo, arrastava "pequenas multidões" para seus shows.

Foi lenta a transição de volta ao estrelato.

Engana-se quem pensa que nos tempos em que o consideraram démodé, velha guarda ou cafona, Gonzaga parou de produzir. Sem esmorecer um só instante, tratou de cruzar a "parte de cima" do mapa de ponta a ponta, sempre à bordo de uma Veraneio que ele mesmo guiava e levando os músicos estritamente necessários para tocar onde quer que o chamassem: um zabumbeiro e um trianguleiro.

TV Globo? Só de vez em quando. Sucesso no rádio? Nos programas segmentados. Shows no "sul maravilha"? Em centros de resistência, como o Forró do Pedro Sertanejo.

Um verdadeiro artista independente. On the road. Do it yourself avant la lettre.

Ao descer do avião em São Paulo, o velho Lua passava, por causa de tudo isso, despercebido.

A equipe da agência, encerrados os trabalhos de gravação, levou o convidado especial para almoçar. Escolheram uma churrascaria fina nos Jardins.

Qual não foi a surpresa dos elegantes comensais nativos diante da chegada de um negro... desconhecido!

Os olhares nada hospitaleiros, no entanto, não foram suficientes para amedrontar a turma. Sentaram-se, fizeram os pedidos e cuidaram de dar vazão à felicidade que é poder repartir a mesa com um gênio da cultura do país que a gente ama.

Já perto da hora do cafezinho, o maître se aproximou do compositor e lhe disse: "Seu Luiz, o nosso chefe de cozinha é nascido no Exu e gostaria muito de lhe cumprimentar, mas não pode circular aqui pelo salão, então pediu para contar que é seu fã e tem muito orgulho de ser seu conterrâneo".

Gonzaga não teve dúvida. Levantou-se e foi até a cozinha apertar a mão de um por um dos rapazes e moças que suavam ao calor de grelhas, fornos e panelas. Foi aí que a babel de sotaques se fez ouvir. Paraibanos, piauienses, gente das Alagoas, do sertão, da praia, do Cabrobó, de Nísia Floresta, a nação nordestina encalistrada, como costuma ser até hoje em dia, nas entranhas da produção capitalista, saudou o eterno Rei do Baião, poeta da emancipação identitária, cantor maior do orgulho popular brasileiro.

Satisfeito, conta paga, amigos abraçados, Luiz Gonzaga ajeitou no rosto o indefectível par de óculos Rayban e, quase na rua, com a voz potente que a plenitude da maturidade artística tornava inconfundível, soltou essa:

"Tá vendo, minha gente? Se não fosse o Nordeste, São Paulo não comia".

13 de novembro de 2016

A NATUREZA DAS COISAS E O AZAR

Celso, por que a Dilma foi deposta e a esquerda ainda tomou um esfrega nas eleições municipais?

"A esquerda perdeu porque o PT foi pego levando dinheiro do cartel de empreiteiras que roubava a Petrobras; e porque implementou, no primeiro mandato de Dilma, uma política econômica que fracassou. Daí em diante, os adversários jogaram com todos os recursos de poder de que dispunham para derrubar o governo, como é da natureza das coisas que aconteça. Reclamar disso é como reclamar da chuva".

Não teve mais algum outro fator, Celso?

"Houve também azar: não existia nada na natureza das coisas que exigisse que a Lava Jato, a ressaca da Nova Matriz Econômica e a queda dos preços das commodities acontecessem ao mesmo tempo. Mas, novamente, quem aceitou correr esse risco foi quem não quis realizar o ajuste quando as coisas iam bem".

O que fazer de agora em diante?

"No momento, a liderança da esquerda está inteiramente em disputa".

MAS QUE GRANDESSÍSSIMO* FILHO DE UMA PUTA!!!

* a saber, Celso Rocha de Barros hoje na Ilustríssima

13 de novembro de 2018

Não há quem não saiba que o deputado Jair esteve e permanece ligado, em todos os momentos de sua vida parlamentar, ao fisiologismo partidário mais tacanho conhecido como 'baixo clero'. Como se não bastasse deu início a um clã de políticos e apaniguados na mais antiga forma de garantir privilégios sociais que sabemos no Brasil, estratégia que perdura desde as capitanias hereditárias.

Maitê Proença, por seu turno, cotada para o Ministério do Meio Ambiente, tem percurso semelhante. Recebe sua bolsa fidalguia*, dando aquele drible na legislação que bem conhecemos. Como se não bastasse (idem) manteve-se durante anos em relação estável com um dos mais notórios lobistas do capitão desse barco pirata que se aproxima das nossas costas em alta velocidade.

Maitê, que publicou um texto, involuntariamente cômico, comparando seu envelhecimento com as delícias de um queijo gorgonzola - a iguaria, segundo ela, apodrece até ficar irresistível - tem um currículo de acordo com o novo desgoverno. Não faz ideia do que o cargo exige (Paulo Guedes menos ainda), mas, como todo 'fisiológico', está pronta para bem servir e tem alto QI (quem indique).

Maitê Proeza está, portanto, credenciada para ser uma 'intelectual orgânica' da nova hegemonia. O cheiro que exala da operação não deixa dúvida.

* A palavra fidalgo, usada em Portugal (em Espanha 'hidalgo'), surge da aglutinação de filho-de-algo. Significa que a pessoa em questão tinha alguma coisa em bens ou em condição nobre.

13 de novembro de 2018

Eu passo meus dias em busca de trocadilhos, atos falhados, lapsos do discurso, derrapadas de sentido, por acreditar que as palavras trazem em si todas as intenções de quem as pronuncia. Às vezes, muitas vezes, é necessário escovar 'a contrapelo', para que pulem do texto as pulgas. Mas, em geral, tudo o que se quis dizer lá está, ainda que sob a aparência do disfarce.

13 de novembro de 2019

JEANNINE É UM JÊNIO - série televisiva

Estreou em 12 / 11 / 2019

Sinopse: Adotada por um pequeno grupo de militares e agregados, Jeannine, que ninguém sabe de onde veio, passa a prestar serviços aos novos donos, garantindo situações inusitadas.

Aspecto marcante da personagem, Jeannine sabe unir como ninguém esperteza e obediência.

O pretenso interesse em torno de Jeannine está baseado na naturalidade que demonstra ao realizar mágicas com a Constituição boliviana, todas conseguidas a partir de efeitos especiais de Câmara manipulados na Mesa de edição.

Cada detalhe em Jeannine é um Jênio é deliberadamente tosco, como em programas que alcançaram as massas da América do Sul nos anos 60 e 70 do século XX. Podemos afirmar que a série é um remake.

Era para ser uma comédia, mas o elenco de quinta categoria e a indigência do roteiro garantem que os episódios não tenham a mínima graça.

Embora não haja previsão quanto ao número de temporadas para Jeannine, nas redes sociais já se verifica forte movimentação pedindo o cancelamento da série. Nesse momento a hashtag #VoltaPraGarrafaJeannine está em segundo lugar nos top trendings.

Jeannine é um Jênio é uma co-produção original Bolívia-EUA.


13 de novembro de 2020

'Não acreditar' em pesquisa é uma espécie de terraplanismo da esquerda das mídias sociais. Os candidatos, por sua vez, nem levantam da cama sem atualizar as pesquisas. A principal diferença é que as campanhas têm acesso a várias e de variados tipos delas, enquanto nós ficamos restritos aos grandes resultados dos grandes institutos. A leitura dos dados pela imprensa (a grande e a alternativa) fica sujeita a todo tipo de manipulação. Ok, estamos de acordo, para o eleitor a informação fornecida pelas pesquisas é super limitada. Isto posto, pegando o último Datafolha, que confirma as tendências de todas as consultas anteriores, Covas está consolidado como favorito, mas, salvo engano, não leva no primeiro turno. A soma dos concorrentes chega perto de 60%, brancos e nulos são 7% e indecisos apenas 3%. As curvas para cima e para baixo de cada um dos 13 aspirantes a prefeito parecem constantes. A pulverização, pelo jeito, anulou eventuais estratégias baseadas na transferência 'util' de votos. O nível de violência mútua, surpreendentemente baixo, também não autoriza prever grandes golpes sujos como nos acostumamos a presenciar desde, pelo menos, 2010. No segundo turno esse coeficiente altíssimo de homens e mulheres de Direita vai todo se unir, disso já se pode ter certeza. Uma característica da eleição do próximo dia 15 é a presença de gente muito conhecida na internet. Em tempos de pandemia, semelhante 'capital' é capaz de produzir estragos consideráveis: os 4% do Mamãe Falei deveriam servir de alarme. A Esquerda, desde o Golpe, está reduzida ao seu tamanho real, sempre pequeno. Capturar votos do Centro já foi mais factível. Sem eles ninguém vence eleição seja lá em qualquer lugar. Bruno Covas, ainda, colhe os benefícios de se ver poupado pelo foco irrestrito que o Brasil tem dedicado a Jair Bolsonaro. O messias do Planalto funciona como um para-raios permanente. Prefeitos e governadores poucas vezes estiveram tão confortáveis perante a opinião pública. É, com isso, me parece, que teremos que nos haver por agora. Um segundo turno muito difícil de ganhar, próximo do impossível. Entre hoje e o domingão, porém, tudo pode acontecer, inclusive nada. De minha parte, só de não ter que votar 'útil' outra vez no Márcio França já seria um alívio.

Friday, November 10, 2023

10 de novembro de 2016


Sendo melhor, igual ou pior que a Hillary Clinton, Donald Trump é um representante da chamada "Extrema Direita". Fenômeno com o qual ainda não tivemos que lidar para além do histrionismo de figuras que se fantasiam com roupas do exército brasileiro, saem em passeatas de meia dúzia, ou postam vídeos caseiros constrangedores. O que NÃO quer dizer que NÃO estejam em ascensão pelo mundo afora. A França, por exemplo, tem a Marine Le Pen. Se alguém não notou, ela foi a primeira a faturar na mídia comemorando a vitória do alaranjado maluco. Aqui foi o Bolsonaro quem sacou de imediato o potencial que o "alinhamento" à gestão Trump tem para alavancar seus planos eleitorais. O brasileiro, para os EUA, agora, mais que nunca, é apenas um "porco latino" a mais? Of course, my horse. Mas quem disse que a turma do Bolsonaro sonha em ir pra Miami lavar pratos? A Extrema Direita é nacionalista. O barato dessa gente (diferentemente do coxa-creme Ralph Lauren que sonha em viver na gringa) é permanecer no lugar de origem, só que dando as ordens. Ou melhor, dando porrada em quem "subverter" a ordem. Xenofobia, racismo, misoginia, sexismo, ódio de classe, homofobia, violência, tudo isso que compõe a base das sociedades patriarcais do Ocidente e que tem permanecido sob relativo controle desde os pactos universalizantes do pós-Grandes Guerras, lateja a cada dia com mais força, querendo vir à luz. Diferentemente do mero conservadorismo, a Extrema Direita substitui o regramento institucional pela ordem da horda. Não à toa, Bolsonaro é um clã. Assim como os Le Pen. Os Bush do Texas, os Clinton do Arkansas, os Neves de Minas Gerais, ou os Dória da Bahia, formam famílias também, mas nenhum pode ser rigorosamente classificado sob o rótulo "Extrema Direita". É uma completa perda de tempo, nessa discussão, elencar os prejuízos que Bushs, Clintons, Neves ou Dórias causam ao mundo. Disso ninguém duvida. Bobagem igual é imaginar que o Brasil sob Temer terá qualquer relevância no xadrez geopolítico planetário. No limite, é verdade, pra nós não muda nada, se Trump, ou Hillary. A novidade é que, desde ontem, os vermes que infestam as caixas de comentários dos portais da internet all over the world têm um presidente americano pra chamar de seu. Empoderaram o lúmpem. Daí não pode vir nada bom. No país da "cordialidade", do "patrimonialismo", do controle social genocida, o que menos precisamos é de Bolsonaros a mais. Já os temos de sobra. E, no entanto, eles estão se multiplicando. "Give me a break". Não há nenhuma justificativa para minimizar esse enorme problema.

10 de novembro de 2018

Os partidários do Escola Sem Partido falam em neutralidade, mas sabem que isso não existe. Se não soubessem, não estariam lutando com unhas e dentes para impôr seu ponto de vista. Eles sabem e sabem com o mais profundo de seus seres. O que pretendem, de modo hipócrita, deixemos claro, é naturalizar, dar status de condição inarredável - como o ar que respiramos, a lei da gravidade, as estrelas, o sal do mar - àquilo que é construção histórica e social: no Brasil tudo o que os movimentos de minoria adjetivam com o termo 'estrutural'. Machismo, racismo, patriarcalismo, classismo, etc. Assim, 'neutro' passa a ser qualquer coisa que concorde e reforce a condição privilegiada de homens, heterossexuais, brancos, escolarizados e ricos. A 'elite do atraso', nas palavras de Jessé Souza. Não à toa, a união de toda essa gente supostamente 'neutra', que não gosta de partidos, movimentos organizados, iniciativas e coletivos, ou seja, não suporta 'política', vai se dar em torno da ideia de lutar 'contra a corrupção'. Consultando 4 ou 5 dicionários, CORRUPÇÃO aparece primeiramente como: 'adulteração das características originais de algo; desvirtuação; deturpação; decomposição orgânica; deterioração; putrefação'. CORRUPÇÃO definida enquanto 'uso de meios ilícitos para obtenção de vantagens', ou 'degradação de valores morais' aparece em acepção secundária, ou mesmo como sentido figurado. Antônimos possíveis? Conservação; manutenção; preservação. 'Neutralidade' e 'corrupção' são dois conceitos muito claros, portanto, para a agenda regressista que pretende obter 'de volta' o país 'conspurcado' por todos aqueles 'outros' que não tinham 'entrado na História', para parafrasear Drummond. Produzem sentido, constroem significado e, por isso, é lícito dizer que os eleitores de Bolsonaro captam suas mensagens (Escola Sem Partido é apenas uma delas) 'com o mais profundo de seus seres'. Tais palavras atuam como senhas, como 'mecanismos de comunicação' internos aos membros de um rebanho. Não é preciso saber 'fazer a leitura' da ideia. Apenas ser capaz de 'receptar', sem maiores hesitações, o 'sinal' emitido pelo grupo de referência. Como quem fareja. Como quem se reúne e ataca em conjunto.

10 de novembro de 2019

Existe uma variante do 'antipetista envergonhado'. É o sujeito que critica o culto 'messiânico', ou 'sebastianista' em torno do Lula. É um grupo muito reduzido, residual, na verdade. Mas muito ajuda quem não atrapalha. Por isso, convém demarcá-lo. Só alguém muito confuso em suas análises pode apontar, sem má-fé, o Lula como um super qualquer coisa. Lula é, antes de mais nada, um sobrevivente e, como tal, gasta a maior parte de sua energia dançando "de sombrinha" na corda-bamba eterna em que se move o Brasil. Essa experiência é crucial, reconheça-se, para a identificação que ele sente pela gente mais humilde. Ou você passou fome, ou não passou, percebe? Pois bem, é a fome, ou sua completa ausência, que faz a clivagem. O antipetista que, além de envergonhado, quer desqualificar a admiração e o afeto sincero que o país sente pelo Lula, sofre de superalimentação. São moças e rapazes, homens e mulheres, tão farta e longamente atendidos pelo Estado - leia: privilégio - que podem se dar ao luxo de ver o mundo (e pretender interpretá-lo) segundo seu autocentramento geoestacionário. Ninguém que teve que brigar pra se manter em pé, e esse é o dia a dia de 90% da população brasileira, acredita em salvadores. Se houvesse algum, ele já teria dado sinal de vida. Nem mesmo os neopentecostais trabalham nessa chave: a prosperidade só vem para quem, além da fé, faz por merecer, é isso o que os cultos dizem. O 'salvador' tem que encarnar em você. Senão, não há salvação. Mas o antipetista envergonhado, quando denuncia os 'adoradores' do Lula, demonstra que vê na fé, aquela das canções do Milton Nascimento, um sentimento menor, indigno, próprio dos ignorantes. Iluministas tabajara, parece que não sabem o significado da palavra 'mistério'. O Lula, ao contrário, sabe dos 'mistérios do povo'. E é por isso que arrasta multidões por onde passa. Isso, deveriam saber os críticos, é um conhecimento aplicado, uma tecnologia super avançada de comunicação social, de arquitetura em rede. Profundamente, genuinamente política. Em resumo, Lula, antes de qualquer coisa, é um gênio. Vindo de onde veio é também um milagre, mas isso, a soberba cartesiana do antipetista a quem nunca faltaram três boas refeições por dia não permite reconhecer. A inveja é uma merda.

10 de novembro de 2022



REAL POLITIK

Da distância que ele estava, era só o Lula fechar o punho e acertar o olho esquerdo do Gilmar. Eu já mentalizei essa cena dezenas de vezes, os óculos quebrados e o supercílio do ministro sangrando abundantemente. Seria um ato de vingança por todas as falcatruas do STF, mas em especial, as cometidas pelo Gilmar ele mesmo, desde o suspeito telefonema ao candidato José Serra em 2010 até quando a nomeação do Lula como ministro da Casa Civil da Dilma foi suspensa em momento decisivo do Golpe.

Um corte no sobrecenho da Corte. Um corte epistemológico.

Um sopapo pra fazer voar a peruca do In Fux We Trust. Pra arrancar os fios dos bigodes do Aha Uhu o Fachin é Nosso. Um cruzado no espírito de porco do Lewandowski que deixou o Congresso correr solto na farsa do impeachment. No manjarrolismo do Kássio Nunes.

Ou na Rosa Weber, já que a literatura me permite.

Pois é, poesia. Literatura. Pura imaginação. Permiti-me.

Na vida real, a mão do Lula é a mão que vai nos puxar do abismo. Com Supremo, com tudo. Com Alckmin. Mas, dessa vez, não se trata de um 'grande acordo', igual 2016. Lula entra para a História como o cara que costurou o pacto de reconstrução nacional. Pacto a milhões de mãos.

A outra boa notícia dessa foto é que o implante capilar do André Mendonça não está dando muito certo.

Thursday, November 09, 2023

9 de novembro de 2016


O Instituto Data Eu coletou dados durante as duas últimas horas e vai estar produzindo um grafo que demonstra que os LGBTs, os negros e as minas estão acusando o golpe da eleição do Trump com mais clareza que os brancos hetero-orientados do Facebook. Killary is nót gud, of course, mas festejar o Trump, ou diminuir a malignidade dum ogro na Casa Branca, aí já é um pouco too much, du iu know uót I mean? O Instituto Data Eu trabalha com uma margem de acerto de 3%, para mais ou para menos.

9 de novembro de 2018


Na Itália, a resultante da operação Mãos Limpas foi Sílvio Berlusconi. Aqui nossa Lava Jato deixa como legado a figura espúria de Guedes Moroscônix, uma tríade horrível, mistura de mal com atraso e pitadas de psicopatia. O Tiranossauro Bozo deu a esse Cérbero descerebrado o status de ministério.

Que eles se pareçam com os 3 Patetas não é culpa minha.

9 de novembro de 2020


Esse é o cachorro do Biden. O nome dele é Major.
O cachorro do Trump chamava Capitão, mas foi abandonado.

Monday, November 06, 2023

GABRIEL FELTRAN @gabriel_feltran, no X.

1. Não conheço a @renataloprete, nem seu trabalho, portanto não falo aqui nem dela, nem dele. Mas quero falar do argumento demográfico para analisar conflitos armados. Eu sou contra esse argumento, há 2 décadas, no debate sobre homicídios e conflito armado no Brasil.

2. O argumento demográfico considera que, em uma guerra, uma população com mais crianças teria mais mortes de crianças. Como considera que, no Brasil, a redução proporcional de jovens na população causaria redução de homicídios de jovens. Parece lógico, mas é falso.

3. Para o argumento demográfico, a diferença nas taxas de crianças mortas na Palestina, e na Ucrânia, estaria na comparação das pirâmides etárias. População bem mais jovem na Palestina explicaria (ainda que não justifique) o maior número de crianças mortas. Errado.

4. Também está errado o livro Freakonomics, que fez sucesso argumentando que a diminuição da fertilidade das mulheres americanas explicava a redução dos homicídios nos EUA, anos depois. Eu adoro demografia, ela explica muita coisa. Mas não conflito armado. Por quê?

5. Porque essa explicação estrutural faz sumirem os atores do conflito armado. A intencionalidade e ação estratégica do ator. E, como sabemos, conflito armado é o lugar por excelência da estratégia. Mísseis têm GPS. As guerras podem ser cirúrgicas, pelo menos desde os anos 90.

6. Quando olhamos só para a estrutura, perdemos de vista a lógica própria de cada conflito armado. E eles não são, quase nunca, espalhados homogeneamente nem no tempo, nem no espaço. São concentrados no tempo, no espaço e - com exceção da bomba atômica - também na população.

7. Sendo concentrados no tempo/espaço/população, e sendo lugar da estratégia, é preciso conhecer a conjuntura, a estratégia e intencionalidade mais que a estrutura. Se a violência armada fosse espalhada na população, no Brasil p.ex., morreriam todos os perfis da população.

8. No conflito armado latino-americano, morrem quase sempre os mesmos sujeitos: na grande maioria homens, jovens, pobres, negros ou indígenas, operadores baixos do conflito armado em mercados ilegais. Na Ucrânia e Rússia, morrem sobretudo soldados. Não uma amostra da população.

9. No Brasil, embora a população geral tenha perdido jovens, em proporção, os homicídios foram aumentando no mesmo período. E onde caíram bastante, como em SP, foi em ritmo bem mais rápido do que a redução demográfica dos jovens. A explicação era outra: Crime e Castigo na Cidade.

10. Portanto, é preciso saber que nesse conflito, os mandantes da guerra em Israel estão matando crianças intencionalmente. Estrategicamente. Não à toa cogitaram arma nuclear. A estratégia terrorista - desde antes do 11/9 e para depois do ataque do Hamas - é atacar civis.